Por Fernando Calmon
Erro humano costuma ser a causa isolada de 80% dos acidentes
de trânsito. A distração do motorista tem papel preponderante nestes erros e se
tornou um grande problema. Há razões diversas que vão desde sonolência e
cansaço até situações de monotonia ao volante, estresse e sobrecarga de
informações.
Trata-se de uma dificuldade em nível mundial. Nos EUA apenas,
por exemplo, que dispõe de boas estatísticas, uma média de 10 pessoas morrem e
mais de 1.100 ficam feridas diariamente em razão de acidentes causados por
distrações ao volante, segundo o Ministério dos Transportes do país.
Para combater essa realidade algumas empresas, como a alemã
Continental, utilizam tecnologia de segurança ativa para avisar sobre os perigos
e prover assistência, se necessário. Assim, criou um veículo-conceito focado no
motorista e que monitora o seu olhar. Uma câmera de raios infravermelhos,
situada na coluna de direção, acompanha o rosto, os olhos e seus movimentos de
cabeça. Dessa maneira a eletrônica de bordo consegue detectar se ele está
cansado, se o olhar está fixado na estrada ou rua em situações críticas já
detectadas por outras câmeras, radares e sensores.
Equipar o carro de estudo com uma faixa interna de diodos
emissores de luz (LED, em inglês), que administra a atenção do motorista, foi a
escolha. Sua aplicação circunda todo o interior do habitáculo por onde alcança
a vista. De um lado, se conecta à câmera infravermelha que detecta o grau de
distração. De outro, interage com os diversos sistemas que identificam
situações críticas: controlador adaptativo de velocidade e assistente contra invasão
de faixa de rodagem.
Age como copiloto virtual. Se a câmera percebe que o
motorista tirou os olhos da estrada ao se aproximar de uma zona ou situção de
perigo, a fileira de LEDs se acende. Tal sinalização pode produzir um rastro de
luz fixo ou piscante. Por sua visão periférica o condutor intui que algo está
errado e quase instintivamente foca atenção na direção correta. Em função do
nível de perigo envolvido, a faixa luminosa pode assumir qualquer cor entre
branco, amarelo e vermelho.
O conjunto é calibrado para atuar de diferentes formas. Se
nenhum grau de distração ocorrer ou se riscos externos não forem detectados, as
luzes se apagam. Mas o veículo também pode só avisar sobre a falta de atenção,
mesmo se as condições no entorno ainda não alcançaram nível crítico. Esse novo
sistema representará uma grande ajuda para as tecnologias de direção autônoma
que surgirão nos próximos anos.
Se o carro perceber alguma distração ou por escolha do
motorista, pode assumir os comandos (direção, freio e acelerador) em algumas
situações de tráfego, a exemplo do para-e-anda em congestionamentos até 30 km/h.
Em velocidades maiores, o motorista retoma as ações e os LEDs voltam a atuar
para orientação segura.
Toda a abordagem nasceu da colaboração entre a empresa e a
Universidade Técnica de Darmstadt, perto de Frankfurt, considerada uma das mais
importantes da Alemanha. É parte do projeto de pesquisa Proreta 3, voltado a
sistemas inovadores de segurança e de assistência avançada ao motorista, a fim
de prevenir acidentes ou reduzir suas consequências.
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